Faroleiros




·         João Ubaldo Ribeiro – Autor

Em seu discurso de posse da cadeira número 34, na Academia Brasileira de Letras, João Ubaldo Ribeiro manifestou saudade do antigo regimento da casa que permitia ser empossado via carta. Avesso a cerimônias e badalações, ele afirmou: “sou apenas um romancista, um contador de histórias, cuja modesta cultura literária foi adquirida num convívio arrebatado com os livros de ficção, a poesia e o teatro”. Desde criança, o escritor era incentivado pelos pais a ter intimidade com os livros da biblioteca particular da família. Entre as primeiras leituras, aos 8, 9 anos, figuram Hamlet e Romeu e Julieta, de Shakespeare.
Aos 21 anos, ele escreveu seu primeiro romance, Setembro, não tem sentido e o publicou cinco anos depois, graças ao incentivo do amigo Glauber Rocha e o apadrinhamento de Jorge Amado. Em 1971, lançou Sargento Getúlio, Prêmio Jabuti na categoria Revelação de Autor. Com tradução própria publicou Sergeant Getulio, nos Estados Unidos, obtendo grande repercussão no exterior. Na sequência vieram os romances: Vila RealViva O Povo Brasileiro, O Sorriso do Lagarto, O Feitiço da Ilha do Pavão, A Casa dos Budas Ditosos, Miséria e Grandeza do Amor de Benedita, Diário do Farol e Albatroz Azul, livros infanto-juvenis, muitos contos, crônicas, roteiro para cinema e televisão, artigos para jornais nacionas e internacionais. E em 2008, João Ubalddo recebeu umas das maiores honrarias para escritores da língua portuguesa, o Prêmio Camões.
            Nascido no dia 23 de janeiro de 1941, na ilha de Itaparica (BA), aos dois meses de idade, João Ubaldo mudou-se com a família para Aracaju (SE), onde viveu parte da infância até aos 10 anos quando passou a morar em Salvador. Fez o curso clássico no Colégio Central, onde conheceu Glauber. Em 1957, aos 16 anos, começou a trabalhar como repórter no Jornal da Bahia, tempos depois foi para A Tribuna da Bahia, onde chegou ao cargo de editor-chefe. No ano seguinte, iniciou o curso de Direito na Universidade Federal da Bahia, ao lado do amigo cineasta com quem editava revistas e jornais culturais. Apesar do bom desempenho na faculdade, ele nunca exerceu a profissão, pois abraçou fortemente as letras.  



  • Fernanda Paquelet – Diretora e iluminadora 
A iniciação de Fernanda Paquelet, 36 anos, nas artes cênicas se deu no início da adolescência por causa da timidez do irmão mais velho. Com o intuito de vencer o acanhamento, ele aceitou a sugestão de um amigo da família para fazer teatro, porém disse que não iria sozinho de jeito nenhum. Então, a mãe matriculou os dois irmãos na oficina.  Ele nunca foi às aulas, mas Fernanda tomou gosto e resolveu abraçar o ofício. A transição do teatro amador para o profissional aconteceu na adolescência, aos 13 anos, com o espetáculo Mateus e Mateusa, dirigido por Maria Eugênia Milet, na sala do coro do Teatro Castro Alves.     
Terminado o segundo grau, ela foi aprovada para o Bacharelado em Interpretação Teatral na Universidade Federal da Bahia. “Quando entrei na Escola de Teatro, já tinha a experiência de atriz. Então, fui aprender a parte técnica”, diz, em tom de brincadeira, Fernanda. Gracejos à parte, foi mais ou menos o que acorreu, pois vem desta época os primeiros conhecimentos dela em iluminação, sonoplastia e cenografia. Em seguida, ela enveredou pelos caminhos da direção e depois rumou para a produção cultural.
Com 23 anos de carreira, Fernanda exerce essas múltiplas funções artísticas e tendo o reconhecimento da classe, do público e dos críticos. Pela atuação em As Estrelas de Orinoco, ao lado de Iami Rebouças, direção de Felipe Assis, recebeu o Prêmio Braskem de Melhor Atriz. Outros trabalhos de destaque são: Jingobel, direção de Celso Jr., e Noviças Rebeldes, direção de Wolf Maya.
Em breve, ela estréia no cinema nas produções baianas Pau Brasil, de Fernando Belens, Jardim da Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro. Como diretora, ela assinou Vingança, Vingança, Vingança, Capitães da Areia e Siricotico: uma comédia do balacobaco, e os infantis A Vaca Lelé, indicado ao Prêmio Braskem de Teatro de Melhor Direção, E o Lobo é Mau?. Em seu currículo consta também a concepção de luz para os espetáculos Sebastião, Atire a Primeira Pedra e Barrela, dentre muitas outras. Com o irmão Alexandre Moreira e os amigos Eduardo Scaldaferri e Marília Castro, Fernanda fundou a Quatro Produções Artísticas.


  • Amarílio Sales – Narrador 
Dentre os espetáculos mais recentes de Amarílio Sales, 54 anos, estão as atuações nas montagens do Núcleo de Teatro do TCA, Jeremias, O Profeta da Chuva, texto e direção de Adelice Souza, Policarpo Quaresma, adaptação do livro de Lima Barreto dirigida por Luiz Marfuz, contemplado com Prêmio Braskem de Teatro de Melhor Espetáculo. E A Casa de Bernarda Alba, do dramaturgo espanhol Frederico Garcia Lorca, encenado por Fabiana Monsalu, que o rendeu o Prêmio Braskem de Teatro na categoria Melhor Ator pela interpretação visceral da personagem título.
Cearense de nascimento, ele se mudou para São Bernardo dos Campos, cidade do ABC paulista, aos 5 meses de idade e começou a fazer teatro ainda no primário. No início da década de 80, foi para Paulicéia estudar artes plásticas na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Lá, atuou e produziu diversas peças e exerceu a profissão de arte-educador durante 10 anos na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e na USP entre 1989 e 1991. No final dos anos 90, ele recebeu uma proposta de trabalho desafiadora do diretor Darci Figueiredo: interpretar em japonês o narrador do espetáculo Hako Onna (tradução: A Mulher Caixa) em quatro cidades nipônicas. Convite aceito. Foram quatro meses de estudo da musicalidade do idioma e Amarílio rumou para outro lado do mundo para contar o mito amazonense da mulher que vive mil anos na beira do rio.
De volta ao Brasil, Amarílio fixou residência em Salvador e reestreiou o monólogo que fazia em São Paulo, Apareceu a Margarida, de Roberto de Athayde, utilizando as músicas de axé para alegrar e atualizar a história da professora autoritária. A montagem foi bem recebida pelo público e em apresentação na Região Metropolitana de Salvador, ele foi contemplado com o Prêmio de Melhor Ator do Festival de Camaçari. Na seqüência, vieram as peças itinerantes O Evangelho Segundo Maria, dirigida por Carmen Paternostro e encenada no Forte do Barbalho e Palhaço...Quem?, texto de Timochenco Wehbi, com direção de Rino Carvalho, e apresentada em 26 praças da periferia de Salvador. No ano passado, ele voltou a trabalhar como arte-educador no Ponto de Cultura Gamboarte, sediado no Teatro Gamboa Nova. 





  • Daniel Becker – Pai 
Transitando paralelamente entre a Psicologia e o Teatro há quase três décadas, Daniel Becker (A Prostituta Respeitosa e Bodas de Sangue), 47 anos, conseguiu encontrar interseções entre as duas áreas do conhecimento, e assim, construiu sua história profissional. Como mérito, foi recém titulado doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com a tese denominada “Diálogos somáticos do movimento: o Método Pilates para a Prontidão Cênica”, conceito formulado por ele que propõe a importância da atividade física para que atores e dançarinos possam exercer plenamente sua arte. “A Psicologia indica como tratamento a qualidade de vida e o bem-estar, entendo que esse caminho é, também, pelo corpo. No teatro, o corpo é um instrumento a ser trabalhado pelo ator para construir o personagem”, afirma Daniel, que traz no currículo mais de 30 espetáculos, atendimento clínico e trabalho com educação.         
As formações dele iniciaram nos anos 1980, quando o adolescente loiro nascido em Porto Alegre e radicado em Salvador, desde os 6 anos, prestou vestibular para Psicologia na UFBA e, concomitantemente, iniciou o Curso Livre de Teatro na mesma instituição. Antes de terminar as aulas de artes cênicas, foi convidado pelo diretor Felinto Coelho para integrar o grupo Suplemento Juvenil e atuar na peça de ficção científica Mega Star, que estreou na antiga Sala do Coro do Teatro Castro Alves. Depois vieram os espetáculos Merlin ou A Terra Deserta, direção de Carmen Paternostro, e Traições de Meran Vargens.
Apesar da carreira promissora, Daniel decidiu trancar a faculdade e se mudar com a esposa grávida para Lençóis com o intuito de criar o filho. Ficou por lá durante 3 anos e de volta à capital baiana, finalizou o curso de Psicologia. Com o canudo na mão, foi morar em Vitória da Conquista, onde se dividia entre o consultório e o emprego na escola como psicólogo. Nessa época os palcos tinham ficado em segundo plano, mas não por muito tempo. A estada no interior durou 3 anos e ele novamente regressou, desta vez a convite de Fernando Guerreiro para protagonizar Calígula. Mas a parceria não deu certo e ele foi substituído por Vladimir Brichta. Ao refletir sobre o passado, Daniel diz que era um ator imaturo, porém aprendeu a lição e outras montagens vieram como O Vôo da Asa Branca e Na Lua, na Rua, na Tua, encenações de Deolindo Checcucci, Vixe Maria, Deus e o Diabo na Bahia, de Guerreiro, e, mais recentemente, Dias de Folia, de Jacyan Castilho. 





  • •  Nayara Homem - Mãe





    A atriz e jornalista paulista Tatiane Carcanholo (Guilda/O Evangelho Segundo Maria), 31 anos, participa pela segunda vez de uma montagem baseada na obra de João Ubaldo Ribeiro. Em Diário do Farol, onde as palavras se revelam inadequadas, ela interpretava a jovem idealista Maria Helena, que rejeita as investidas do ex-padre vilão. Em sua peça de formatura, Viva o Povo Brasileiro, direção de Meran Vargens, que lhe rendeu a indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria atriz coadjuvante, ela se revezava entre seis personagens.
    Após colar grau, Tatiane voltou para Piracicaba, interior de São Paulo, para reencontrar a família. Apesar do convívio doméstico, ela sentia saudades do experimentalismo do Coletivo Cruéis Tentadores, empreitada dela em parceria com o diretor Marcelo Sousa Brito e outros artistas transgressores. “Essa experiência foi única porque a escolha da estética alternativa mexeu muito conosco e acredito também que com a cena de Salvador”, conta a atriz.
    Hoje em dia, rodeada por seus pares, Tatiane que quando foi aprovado no vestibular para Direção Teatral na UFBA não conhecia nada nem ninguém, lembra que, para fazer amigos, aceitava os convites de exercícios cênicos, performances e intervenções. Onde tinha oportunidade lá estava a paulista interiorana que puxava o "r" e queria trabalhar, conhecer e debater.
    Um dia, depois de ser assistente de direção em algumas disciplinas, teve a sorte de encontrar Luiz Marfuz pelos corredores precisando de alguém para ajudá-lo no espetáculo e foi para Sala 5 para fazer o que fosse necessário. Depois, Marfuz a chamou para fazer a assistência de Cuida Bem de Mim. Assim, ela passou dois anos na empreitada que define como “maravilhosa”.  
     Aos poucos, ela percebeu que a atuação a fazia falta e migrou para o curso de Interpretação, um tanto tensa sob os olhos de Harildo Deda e Hebe Alves, mas deu certo. Com Walter Rozadilla, da Contramão Produções, grande amigo e estudioso da arte do ator, fez o curso Abrindo Portas, que definitivamente a marcou para sempre. Nesta época fez junto a Carmen Paternostro duas temporadas do espetáculo "O Evangelho Segundo Maria"
    As artes cênicas entraram na vida de Tatiane na infância. “Aos seis anos, percebendo minha extrema timidez, minha mãe resolveu me levar ao teatro. Com medo, porém muito encantada, resolvi que queria fazer aquilo de maneira ininterrupta, por acreditar tanto na força transformadora desta arte”, afirma. Em seguida, ela participou das Oficinas de Teatro Infantil e Adulta de Santa Bárbara d'Oeste e de diversos festivais no interior de SP, num encontro com Maria Clara Machado, Lewis Carroll, George Orwell, Chico Buarque, Carlos Drummond de Andrade, “me alfabetizei através da cena, de maneira intuitiva e amadora”.

    Ficha Técnica
    Da obra Diário do Farol, de João Ubaldo Ribeiro

    Direção – Fernanda Paquelet
    Adaptação – Amarílio Sales
    Elenco – Amarílio Sales, Daniel Becker, Nayara Homem e Tatiane Carcanholo
    Produção – Fernanda Paquelet, Eduardo Scaldaferri, Marília Castro e Saulo Viana
    Secretária de Produção – Aninha Lima
    Concepção do Espaço – Fernanda Paquelet
    Execução do Cenário – DA20 Cenografia
    Cenotécnicos – André Cruz, Anderson Miranda, César Santana, Levi Sansi, Pepeu Oliver
    Armeiro – Paulo Batistela (Nietzsche)
    Iluminação – Fernanda Paquelet e Eliedson Rosa
    Montagem, Operação de Luz e Contra-Regra – Eliedson Rosa
    Maquiagem – Marie Thauront
    Trilha Sonora Original – Alex Mesquita
    Produzido no Estúdio Curva do Tempo
    Operação de Som e Contra-Regra – Saulo Viana
    Figurino – Daniel Moraes e Leila Eva Machado
    Costureira – Angélica da Paixão
    Preparador Físico – Daniel Becker
    Programação Visual – Traços Comunicação
    Assessoria de Imprensa – Maurício Ferreira
    Registro Fotográfico e Captação de Imagem Audiovisual – Alexandre Moreira, Nilson Rocha e Ricardo Konká
    Revisão Ortográfica – Hugo Homem